Crítica: It Comes at Night. A noite é escura e cheia de horrores
Ao deambular pelo quadro de Brueghel nos minutos iniciais, It Comes at Night empurra a sua mensagem para outros limites. Nesse momento, o apocalipse deixa de ser a alegoria catapultada para a fama por Romero e torna-se numa viagem especulativa até aos medos e paranoias da europa do século XIV. Não é por acaso que a infeção retratada no filme é em tudo semelhante aos relatos da Peste Negra, a doença que dizimou um quarto da população europeia da altura. É muito fácil esquecermo-nos que tudo aquilo já aconteceu e que não há ninguém que nos possa garantir que não volte a acontecer.
Esta projeção emocional é o pilar central de um filme minimalista mas rico em atmosfera, em que a maior ameaça à humanidade é a própria humanidade: imperfeita, desconfiada e paranóica.
A mensagem é clara e transmitida de forma irrepreensível, com uma belo trabalho de fotografia a tirar partido de cada metro quadrado de escuridão. O problema é que, tal como os congéneres The Witch ou It Follows (ou até mesmo Get Out) aquilo que tem para dizer não justifica o formato longa-metragem.
Embora nunca se torne insuportavelmente cansativo (são apenas 90 minutos!), o segundo ato é exageradamente longo e redundante e a recompensa do terceiro ato acaba por nunca se mostrar suficientemente satisfatória.
It Comes at Night é um interessante exercício sobre o medo e os terrores noturnos, executado de forma bastante hábil, mas que em última análise tem pouco mais para dizer do que um episódio da Twilight Zone.
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