"Click"
"It's all just... cornflakes"
Apesar de eu não ser um grande fã de Adam Sandler (tal como não o sou da grande maioria dos novos cómicos norte-americanos) tenho que reconhecer que neste filme ele encheu-me as medidas, e nem sequer foi tanto pela parte cómica, mas sim pela sua (pasmem-se!) versatilidade dramática.
Isso mesmo. Apesar de eu ter ido ver esta película a pensar no seu fantástico conceito (quem não queriam um comando daqueles?), e estando já mentalizado que ia assistir a um daqueles filmes sandlerianos para adolescentes com muito sexo e ruídos corporais - já me daria por satisfeito se disto não se passasse, desde que a coisa não descambasse - fiquei agradavelmente surpreendido com a última meia hora onde se consegue atingir uma intensidade dramática inaudita e nunca vista num filme de Sandler, conseguindo puxar alguma que outra lágrima ao espectador mais sensível.
Sim, o humor mais básico está lá (ruídos corporais, sexo, animais obcecados por peluches) mas não ocupa um lugar de destaque ao contrário do que o trailer possa sugerir (tornando-se numa última análise o verdadeiro ponto fraco deste filme), e quando os créditos começam a rolar o que ficou na memória não foi tanto aquele pontapé entre as pernas, mas sim a curiosa reflexão sobre a existência humana.
Todos nós mais cedo ou mais tarde começamos a pensar na vida, e mesmo que nem todos tenhamos arte ou engenho para produzir grandes poemas ou dissertações sobre o assunto, a nostalgia toma conta de nós e não podemos deixar de pensar naqueles momentos passados com os nossos pais, a forma como os fomos vendo envelhecer, a forma como nós próprios fomos envelhecendo, o sabor do primeiro beijo, os momentos passados com aqueles velhos amigos que nunca mais vimos. E é precisamente nesse aspecto inerente a cada ser humano, que este filme toca, colocando-o ao lado de obras como "What a Wonderful World" ou "Groundhog Day", sem no entanto alcançar a mestria destas.
E agora perguntam vocês? Então e Adam Sandler consegue dar conta do recado? Pois a verdade é que... sim. E curiosamente o facto dele não ser um consagrado actor dramático funciona a favor do filme, facilitando a identificação do público com o personagem. E claro, o grandioso Christopher Walken ilumina-nos com a sua sempre arrasadora presença, que mesmo num papel secundário consegue encher o ecrã nos poucos momentos em que está presente. Em relação a Hasselhoff e a Kate Beckinsale, posso dizer que estão lá e recomendam-se, por razões diferentes claro está : "The Hoff" continua a ser aquele mito vivo, e a menina Kate é... bem... vocês sabem, né?
Uma ideia interessante, surpreendentemente bem encaminhada e que tinha potencialidades para ser algo mais do que aquilo que é, se não se quisesse vender a todo o custo como uma comédia adolescente.
Como está... recomenda-se (o que não é nada mau, diga-se de passagem).
(7/10)