"Hairspray"

"I'm a bad, bad girl who needs to be punished"
À primeira vista "Hairspray" parece ser uma daquelas trapalhadas made in Hollywood, afinal de contas estamos perante a adaptação de uma peça da Broadway que é, por sua vez, a adaptação de um filme de 1988.
Mas a verdade é que o resultado é uma obra surpreendentemente refrescante (surpreendente porque estamos a falar de um género que morreu há um bom par de décadas) que acaba por tocar em temas importantes da sociedade com uma sobriedade e dinâmica pouco comuns.
Realizado por um homem cuja carreira não é propriamente digna de nota (Adam Shankman é o homem por detrás de coisas como "The Pacifier" e "Cheaper by the Dozen 2") esperava-se o pior deste filme que tem o John Travolta a fazer de mulher (o que não é o mais fascinante dos conceitos). Mas felizmente parece que Shankman encontrou aqui a sua vocação, o que, se virmos bem, não é de estranhar, já que estamos a falar de um coreógrafo profissional, que obviamente sabe bem que botões pressionar para fazer um musical de qualidade.
E se em matéria de dança estamos bem servidos (Christopher Walken e John Travolta, dois dos dançarinos mais carismáticos de Hollywood em actividade, são aqui marido e mulher, o que já faz do casting tão caricato como genial) em termos musicais não nos ficamos atrás. As canções são leves, inovadoras e interessantes, o que ajuda a dar uma dinâmica única a este filme. As músicas vencedoras de um Tony, da autoria de Marc Shaiman e Scott Witman, funcionam tão bem no grande ecrã como funcionaram em cena.
Temos aqui um desfile de géneros músicais tão diferentes como o Swing, o Blues, a balada, e claro, o velhinho Rock and Roll, que tratam de temas que podem ir do simples fascínio adolescente pelas suas estrelas favoritas, até algo mais complexo, como são os casos da discriminação e do racismo. Tudo tratado de forma ligeira, com um saudável e subtil sentido de humor, de forma segura e competente.
Numa altura em que os filmes parecem todos iguais, "Hairspray" é uma espécie de salvador que surge de onde menos se esperava: do musical.
(8/10) * * * *