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CINEBLOG

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Uma abelha que não pára no sítio



Umas das vantagens da animação é poder esticar e retorcer os limites da lógica para o campo da fantasia sem que ninguém ouse questionar as razões.

É frequente encontrar-mos insectos que falam e que vivem em sociedades parecidas com as nossas. É giro, é fofo e permite-nos estabelecer uma relação de paralelismo entre a vida determinada geneticamente das pequenas criaturas e a nossa existência irritante. A Pixar fê-lo em "A Bug's Life", a Dreamworks fê-lo por exemplo em "Antz" e volta agora à carga neste "Bee Movie".

Mas se é um facto que os espectadores podem aceitar bichos falantes, também é verdade que pedem em troca o mínimo de lógica interna. E é ali que reside o principal problema deste filme. Alguns gags são muito bons, o humor de observação de Seinfeld continua em grande, e admito que deve ter sido dos filmes dos quais saí mais bem disposto este ano. Mas a certa altura começa a contradizer-se a torto e a direito e a ficar, como direi... parvo.

No início estamos no plano da nossa realidade em que os humanos ficam incrédulos quando ouvem uma abelha a falar, mas de um momento para o outro, o facto de ser-mos processados judicialmente por um insecto é a coisa mais normal do mundo. Desculpem mas eu posso aceitar um rato que cozinha, mas não vamos exagerar.

Por outro lado parece que nunca se consegue encontrar enquanto filme. Tem demasiadas linhas argumentativas para uma obra tão curta. Começa com a clássica premissa do herói que não quer ser só mais uma abelha na colmeia; continua para uma história de amor entre uma abelha e um humano; lá pelo meio temos um thriller de tribunal; acaba com Barry B. a salvar o mundo da destruição ecológica. No fundo este filme acaba por ser o espelho do seu protagonista na medida em que, tal como ele, não consegue decidir aquilo que quer ser.

É uma pena, mas também já era de esperar. Seinfeld vendeu a Spielberg um conceito (o do trocadilho entre "B-movie" e "Bee Movie") mas não tinha ideia de como o haveria de desenvolver.

Acabou por fazer o que sabe melhor: criar bons momentos de humor e articulá-los o melhor que conseguiu. É capaz de ser criticável por ter demasiados diálogos em detrimento do humor físico. Mas que podemos fazer? É assim o humor do Seinfeld e é por isso que gostamos tanto dele.

Quem se iria lembrar de usar uma abelha para comparar os anéis dos dedos dos pés a um chapéu no joelho?