A grande caçada

"No Country For Old Men" conta-nos a história de um veterano do Vietname que certo dia, enquanto caçava veados, encontrou uma mala recheada de papel e resolve ficar com ela. Escusado será dizer que foi um grande erro. A partir daí tem que se haver com um impiedoso psicopata que o vai perseguir até ao Inferno. E que perseguição essa, meus senhores.
Até à última meia hora, este filme é uma das mais frias e brutais caçadas algumas vez vistas no cinema. Nem se o Terminator fizesse equipa com o Predator, se conseguiria algo assim. O personagem de Bardem é algo assim de sobrenatural, e é, sem sombra de dúvidas, a alma deste filme. Eu juro que teria tido um ataque cardíaco se ao sair da sala de cinema me encontrasse com alguém com aquele penteado.
Tudo nele é perfeito. Os seus diálogos, os seus movimentos, os movimentos de câmara na altura em que ele está presente, tudo é magistralmente orquestrado pelos Coen para nos trazerem um daqueles personagens que entrarão para a história do cinema.
Do outro lado Josh Brolin só tem que se tentar manter vivo (ou por outras palavras, contentar-se com ser o secundário de Bardem... digam o que disserem).
O problema acontece quando chegamos à última meia hora. Apesar do seu ritmo lento, até esse momento o filme conseguiu sempre manter uma dinâmica interessante, aliando uma narrativa absorvente à sua essência mais sanguinária. Quando o filme está quase a acabar começam a acontecer coisas muito estranhas.
[a partir daqui avancem com cuidado. Possíveis spoilers]
Em primeiro lugar finaliza-se abruptamente a história de Josh Brolin com uma inesperada elipse. Não há explicações, nem imagens. Acaba tudo com um plano. Depois resolve-se começar com um balanço do que aconteceu até esse momento onde se questiona o sentido da própria essência humana. O protagonismo passa, a partir daí, para o lado para Tommy Lee Jones e do seu personagem, que no fundo não é mais do que um segundo narrador que actua como a voz da consciência moral.
Sinceramente achei que esta mudança de tom foi demasiado abrupta e que deixou muitas (demasiadas) linhas argumentais abertas. Não tenho qualquer problema com finais abertos nem como conclusões esquizofrénicas. A única coisa que peço é um pouco de coerência ao longo de toda a narração. Não é simplesmente chegar ao fim e resolver mudar para algo mais profundo o que até ali não o tinha sido. Pelo menos não o tinha sido tão explicitamente.
[Continuem à confiança. A costa está livre]
Claro que, tendo em conta que esta faceta é a última coisa que se vê antes de se sair da sala, é natural que as pessoas se esqueçam um pouco de tudo o que de muito bom aconteceu até esse momento.
Apesar de tudo, meus amigos, não nos podemos esquecer que "No Country For Old Men" é um filme muito bem filmado, com grandes interpretações e uma fotografia magistral e será certamente um filme para recordar.