Salt. Acção apática
Reza a lenda que quando perguntaram à Angelina Jolie se estava interessada em ser uma Bond Girl ela terá respondido «Não, eu quero ser Bond». Como Hollywood costuma ser cortês para com quem dá dinheiro a ganhar à indústria, cedo se começou a pensar numa forma de satisfazer esse desejo. A solução passou então por Salt, um thriller de espionagem que Tom Cruise recusou protagonizar por ser demasiado parecido a Mission Impossible.
Mas Salt não é Bond e não o é por culpa de um erro estrutural crasso do argumentista Kurt Wimmer. Sim, o argumento tem mais buracos que as estradas nacionais e as leis da física são violadas de uma maneira que faria Newton atirar-se de cabeça contra uma macieira. Mas tudo isso seria desculpável se o filme conseguisse cumprir os mínimos que são exigidos a um filme de acção: entreter e criar empatia com o público.
Ora pensemos em James Bond. Todos os filmes de Bond têm um protagonista que acompanhamos, acarinhamos e conhecemos. A história desenrola-se segundo o seu ponto de vista. Durante a maior parte da narrativa sabemos quando ele mente, sabemos o que ele sabe, e desconhecemos o que ele desconhece. O mesmo acontece na saga Bourne e nos Mission Impossible. Podem existir excepções em determinados momentos do enredo mas nunca desde o início do filme. É uma regra elementar para qualquer filme de acção que se preze.
Por estranho que pareça, em Salt acompanhamos a história pelo ponto de vista dos supostos antagonistas. Passamos o filme sem saber quais as verdadeiras intenções da protagonista, o que impede a criação de qualquer vínculo emocional com o personagem. Obviamente que se não nos importamos com a sobrevivência do personagem principal, por mais explosões e cenas de acção magistralmente coreografadas que nos mandem para cima, o filme acaba por não nos interessar.
Sem essa ligação directa ao coração dos espectadores, Salt não é mais do que um filme de espionagem banal e espafalhatoso que leva demasiado a sério os clichés que minam o argumento.
Ninguém duvida que Angelina possa de facto fazer frente a James Bond (com este filme só vem demonstrar que actualmente é das poucas actrizes com estofo para levar às costas um filme de acção tipicamente masculino), mas ainda não é desta que consegue destronar o rei dos agentes secretos. Esperamos ansiosamente por uma próxima oportunidade.
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