Harry Potter and the Deathly Hallows Part I. Bonito mas irrelevante.
Desde que o David Yates pegou no Harry Potter, não há um filme do franchise que me deixe sem aquela irritante sensação de que me escapou alguma coisa. Parece haver um sério problema na definição das prioridades narrativas. Atribui-se muita importância à pirotecnia e à faceta lamechas do argumento (o que nem sempre é mau, porque acaba por ajudar a definir as personagens principais), mas alguns momentos chave da narrativa são secundarizados incompreensivelmente.
Como é possível termos conhecimento de acontecimentos importantes pela voz dos personagens? Se eu quero que me contem uma história vou ouvir uma rádio novela. Se estou a ver um filme multi-milionário, o mínimo que posso pedir é que me mostrem as coisas que interessam. É uma das regras essenciais da linguagem cinematográfica.
Por outra parte, o facto de estarem a adaptar a primeira metade de um livro acaba por tornar o desfecho relativamente anti-climático e tudo o que aconteceu neste filme irrelevante. Se a narrativa global já não é perfeita, distribuírem-na de forma incompleta acaba por deitar tudo a perder.
Salva-se o excelente trabalho do nosso Eduardo Serra (nunca o mundo de Potter pareceu tão sombrio e misterioso) e o fantástico conto The Tale of Three Brothers, que se tivesse sido exibido sozinho antes do filme seria um sério candidato a melhor curta-metragem de animação.