O western visita o planeta Coen
Ao contrário do que possa parecer, este não é um simples exercício de género. True Grit é irmãos Coen até às entranhas. Está inserido naquele planeta estranho, localizado algures entre a galáxia da comédia e a constelação da ultraviolência, bem no centro do universo da perfeição formal.
Não é um filme para ser levado a sério. Não pretende, em nenhum momento, ressuscitar os velhinhos westerns. Prefere apropriar-se das caracteristicas estruturais que tornaram o género reconhecível e transportá-las para o planeta Coen.
Mais uma vez, os Coen construiram grandes personagens (com a ajuda imprescendível de grande atores), instalaram-nos num cenário razoavelmente previsível e tiraram-lhe toda a previsibilidade. Todos sabemos que os irmãos são exímios a brincar com as expectativas dos espectadores e aqui voltaram a fazer das suas (digamos que espectativa criada ao redor dos personagens - sejam vilões ou heróis - nem sempre corresponde à importância real que acabam por ter na narrativa).
Claro que nem todos se dão bem com acontecimentos anti-climáticos e muitos poderão acabar por sair da sala de cinema sem perceberem muito bem o que era ou não importante. No entanto, mesmo que isso aconteça, só pelo prazer de se ver num grande ecrã o magnífico trabalho de fotografia de Roger Deakins e as grandes interpretações de Jeff Bridges e Hailee Steinfeld já valeu a pena o dinheiro gasto no bilhete.
Apesar do coração de True Grit ser indomável e imprevisível, como o seu protagonista, acaba por moldar as convenções do género e criar uma visão refrescante de uma história de vingança convencional.