Gravity (2013), de Alfonso Cuarón
Alfonso Cuarón não é certamente o mais prolífico dos cineastas (a última vez que vimos uma longa-metragem assinada por ele decorria o ano da graça de 2006). Mas quando se mete atrás das câmaras é impossível não ficarmos rendidos ao seu talento.
Depois de definir as linhas gerais daquilo em que viria a tornar Harry Potter e de nos transportar para um futuro próximo assustadoramente infértil, Cuarón resolveu levar-nos numa viagem espacial.
"Gravity" é um blockbuster minimalista (sim, isso existe) que constrói a narrativa em redor de uma gigantesca metáfora da morte/renascimento, com cordões umbilicais e alusões visuais ao útero. Apesar de interessante, é uma abordagem bastante óbvia que acaba por querer parecer mais profunda do que aquilo que realmente é.
Aquilo que faz realmente a diferença em "Gravity" é o departamento técnico liderado por Cuarón.
Se o filme é minimalista ao nível narrativo, em tudo o resto é gigante. Dos movimentos de câmara perfeitos (com uma interessante predileção pela primeira pessoa, piscando o olho aos videojogos), ao som claustrofóbico, passando pelo imponente trabalho de fotografia de Emmanuel Lubezki (que é atualmente o diretor de fotografia preferido de Mallick), tudo funciona na perfeição para nos fazer mergulhar de cabeça numa situação extrema recheada de tensão.
Não é o mais complexo dos filmes espaciais (desenganem-se aqueles que esperavam um segundo "2001"). E também não é, como se poderia esperar pelo elenco reduzido, um filme de atores (tanto Clooney como Bullock estão bem mas o argumento não os deixa brilhar). "Gravity" é sobretudo um portento técnico, magistralmente dirigido e que merece, sem sombra de dúvidas, ser visto no grande ecrã.
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