Crítica: "Get Out" (2017)
Aquilo que mais me impressionou em "Get Out", obra primogénita do até agora comediante Jordan Peele (digo até agora porque a partir deste momento todos vamos olhar para ele com outros olhos), foi o facto de, apesar dos pequenos problemas estruturais e do ambiente marcadamente surreal, é um filme habitado por gente a sério. Não há decisões idiotas nem falsas dúvidas dramáticas. Os personagens agem, falam e raciocinam como qualquer um dos espetadores, e isso, num género em que é tão fácil cair em lugares comuns, é de louvar.
No entanto, essa é precisamente a razão que está por detrás do seu principal problema. "Get Out" é incapaz de aguentar o mistério muito tempo. Simplesmente não o poderia fazer sem sacrificar a sua metódica lógica interna e a credibilidade dos personagens.
Ao tentar reproduzir uma estrutura talhada para um episódio clássico da "Twilight Zone" (30 minutos) num filme de quase duas horas, acaba por criar desequilibrios inevitáveis. Temos um primeiro ato e um payoff curtos e eficazes que contrastam com o recheio demasiado massudo do segundo ato, sobretudo se tivermos em conta que a solução do mistério torna-se óbvia logo no início do ato, tanto para nós como para os personagens. Isso leva a que grande parte do filme acabe por servir apenas para aprofundar a crítica social de uma forma demasiado óbvia e panfletária.
Obviamente que isso não retira os méritos ao seu realizador/argumentista, que consegue aqui um interessante thriller social (expressão usada pelo próprio) cuja mensagem, interpretações e mestria técnica são suficientemente fortes para aguentar a tensão, sem nunca precisar de recorrer a mecanismos de choque fácil como o gore ou o torture porn.
Que venha agora o próximo, senhor Peele.
***