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Crítica: "Stranger Things" (Temporada 1/2016)

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"Stranger Things" é a prova de que a inspiração é infinitamente melhor do que a adaptação.

Inspirado por dezenas de fontes diferentes (a mais óbvia é o cinema familiar/fantástico dos anos 80, mas podem oscilar entre um videojogo do final dos anos 90 e um filme com um par de anos), MattRoss Duffer criaram uma deliciosa lufada de ar reciclado que nos prende do primeiro ao último episódio.

O mistério funciona, graças a uma narrativa limpinha, sempre direta ao assunto, que conta com a preciosa ajuda de um conjunto de jovens atores desconhecidos, que em breve irão deixar de o ser (os putos são os maiores, para quê estar com rodeios?). A banda sonora "é do caraças", não apenas pelos sintetizadores "carpenterianos", que ajudam a tornar a experiência muito mais imersiva, mas também pela extraordinária mixtape que junta nomes que vão desde os The Clash a Vangelis. E a nostalgia nunca foi tão bem tratada, com todos os elementos intertextuais (que podem ir do simples poster à reprodução integral de uma cena) colocados milimetricamente em cena para apelar ao viciado em clubes de vídeo que há em todos nós.

Mas talvez o mais interessante de "Stranger Things" seja a forma como os autores, seguindo as pisadas de um tal de Tarantino, partem de situações e de personagens criadas noutros tempos e às quais reagimos instintivamente, como suculentos bifes destinados a despertar o nosso cão de Pavlov interior, e conseguem trocar-nos as voltas com resoluções e evoluções inesperadas.

"Stranger Things" é um objeto único, com uma alma própria, construído em cima de um cenário familiar mas ainda capaz de nos surpreender. Assusta quando tem de assustar e é enternecedor quando tem de o ser.

Não deixa, no entanto, de ser curioso (e sintomático) que em pleno século XXI,  a melhor homenagem do momento à 7.ª arte venha de uma série de televisão.

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P.S. Já disse que a banda sonora é do caraças?