Crítica: The Void (2016)
Há duas coisas que nunca vão passar de moda: os anos 80 e os filmes de terror. Então se estivermos a falar de juntar as duas coisas, temos material capaz de sobreviver a duas extinções em massa.
"The Void" é um filme feito por quem cresceu a ver (e a adorar) os filmes de terror dos 80 e quer partilhar essa experiência com o mundo. Não é um filme original (nem o pretende ser) e as influências dos clássicos de Carpenter e companhia saltam imediatamente à vista.
Para tornar essa homenagem mais evidente, a dupla de realizadores Jeremy Gillespie e Steven Kostanski optou por abdicar quase por completo do CGI e abraçar os efeitos especiais "artesanais" (ainda não consegui arranjar uma tradução para a expressão "practical effects" que me convença). Isso, por si só, acaba por vender o filme e fazê-lo destacar-se entre as hordas de outros filmes que tentam ressuscitar a série B dos 70/80 mas que acabam por chocar de frente com o CGI manhoso dos 90.
"The Void" é orgânico e old school e consegue transformar um defeito, que em tempos associávamos a produções baratas, num entranhável feitio.
As representações são competentes, a fotografia é bastante sólida (sobretudo se pensarmos que é quase tudo filmado à noite - ou pelo menos para parecer de noite) e é bom ver que ainda há quem faça filmes com 90 minutos.
Feitas as contas, o maior defeito acaba mesmo por ser o argumento, que tenta criar e desenvolver uma mitologia demasiado complexa para o curto espaço de tempo de que dispõe. Ficam algumas pontas soltas e demasiadas questões no ar, que, apesar de não serem suficientes para estragarem a experiência, acabam por torná-la menos eficaz.
Se sonham com o dia em que o Carpenter e o Clive Barker tenham um filho fecundado pelo próprio Cthulhu, não vão sair desapontados.
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