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Crítica: Three Billboards Outside Ebbing, Missouri. A revolta também é um direito

 

Three Billboards Outside Ebbing, Missouri

Desde o momento em que vemos o olhar de Mildred (Frances McDormand) a inspecionar aqueles três cartazes decrépitos à beira da estrada, que sabemos o que se está a passar. Mildred é raiva, injustiça e sobretudo impotência. Está tudo espelhado naqueles olhos. É como começar uma história pelo fim, só que ainda estamos apenas no início. O que se segue é apenas uma confirmação.

Na terceira longa-metragem como realizador, Martin McDonagh aventura-se no território dos irmãos Coen e leva-nos numa viagem até à America profunda. Estão lá as armas, a violência, a misoginia e o racismo, que servem de combustível a uma reflexão sobre o luto e o direito a não deixar o passado cair no esquecimento, por muito inconveniente que possa ser.

De macacão azul e bandana, Mildred é uma alusão óbvia a Rosie the Riveter, ícone cultural associado ao movimento feminista norte-americano. É um mulher que luta contra uma sociedade que, embora apoie e compreenda a sua causa (aparentemente), sente-se no direito de lhe dizer como deve ou não expressar a sua dor. Apesar de se poderem traçar analogias ao movimento #wetoo, não nos podemos esquecer que este filme começou a ser escrito há 8 anos.

É também interessante ver a forma desinteressada como o racismo é tratado, como se fosse uma espécie de regionalismo ou curiosidade cultural, aqui personificado na figura do agente Dixon (Sam Rockwell). Esta leviandade é um poderoso statement político, que diz muito sobre a forma como a justiça é servida na tal América profunda. O personagem de Rockwell é, aliás, a par com a Mildred de Frances McDormand um dos pontos altos deste filme e um dos mais fortes cinzentos numa terra habituada a separar tudo em pretos e brancos.

No final existem as inevitáveis conclusões que precisam de ser retiradas e lições que precisam de ser aprendidas, mas Martin McDonagh (dramaturgo nomeado quatro vezes para os Tonys) tem a clarividência de nunca nos dizer o que devemos pensar. E não é preciso. Nós chegamos lá.

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