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CINEBLOG

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Descobri que gasto demasiado tempo a ver filmes novos. E agora?

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Ontem, enquanto esperava que o router reiniciasse, resolvi fazer uma pequena experiência. Peguei na lista de filmes que vi durante o ano, escolhi alguns ao acaso e tentei refazê-los na minha cabeça. Coisa simples, certo?

Pouco a pouco comecei a reparar que na maioria dos casos pouco mais me recordava do que o nome dos protagonistas (os atores, não os personagens) e uma ou duas cenas soltas.

Foi então que uma dúvida me atingiu em cheio na nuca, como um tijolo arremessado por um adepto que acabou de ver a sua equipa ser goleada em casa pelo último classificado. Estarei com problemas de memória? Ou será que o meu défice de atenção alcançou níveis históricos? Provavelmente deveria ir ao médico. Ou será que… ando a ver demasiados filmes? Não pode ser. É impossível. Como posso sequer pensar nisso?

Depois de arrancar uma porção considerável de tinta da parede da sala com a testa, resolvi parar um segundo, chamar o 112 e desmaiar. Acordei com um enfermeiro careca a instalar-me um cateter e foi então que decidi que não ia lutar mais contra os factos.

A negação inicial depressa deu lugar à dúvida e a dúvida à certeza. Sim. É verdade. Ando a gastar demasiado tempo a ver filmes novos. E não sou o único. Na ânsia de consumir tudo o que anda por aí, perdi a capacidade de saborear o que acabei de ingerir. Não passo de um concorrente de um daqueles concursos de comer hamburgers que depois de enfardar 30 Big Macs chegou à conclusão que não sabe se tinham alface ou queijo.

Enquanto olhava para o lento gotejar do saco de soro, vi perfeitamente a minha modesta e desaparecida coleção de VHSs a chamar-me do passado. Não eram muitos filmes mas também não era preciso. Sabia de cor cada cena, cada frase, cada expressão. Acompanhava com preocupação a mudança de cor e os soluços da imagem até à inexorável deteriorização total. Eram as minhas cassetes. Não precisava de ver todos os filmes que estreavam.

Nessa altura quando chegava um filme bom ao videoclube não se falava de outra coisa durante, pelo menos, um mês. Agora quanto dura um sucesso? Uma semana? Cinco dias?

Com esta ânsia de conhecer tudo, estou a perder a magia da segunda visualização. Se não tivesse visto o “Fight Club” pelo menos quatro vezes, nunca teria feito parte da minha lista de filmes favoritos. E quem diz o “Fight Club”, diz o “Pulp Fiction”, o “Mulholand Drive”, o “Alien”, o “Matrix” ou até mesmo o “Star Wars”.

Há alguma coisa que possa fazer? Provavelmente não. Os tempos mudaram. Mas o primeiro passo para a cura é admitir o problema. Agora é uma questão de tentar minimizar os danos.