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CINEBLOG

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2/3 de lenda com 1/3 de parvoíce



Ora aqui está mais um filme para o tenebroso grupo do "poderia ser mas não foi".

Não sei o que se passou aqui, sinceramente. Tudo parecia tão bem encaminhado. Os primeiros 60/70 minutos (não contabilizei) foram do melhor que Hollywood nos pode dar: um perfeito exemplo de mise en scène, representação, montagem e credíveis e orgânicos efeitos visuais.

Raras são as vezes em que vemos um cenário apocalíptico tão amplo e perfeito como este. Na criação desde mundo devastado utilizou-se uma combinação ideal entre realidade e CGI, com estes últimos a serem usados apenas para acrescentar alguns pormenores que serviram para ajudar a convencer o espectador. Simplesmente perfeito.

Infelizmente não se seguiu essa fórmula para os chamados "vampiros". Eu já tinha ficado com medo quando vi o trailer, mas sempre pensei que a coisa melhorasse. A apresentação dos ditos cujos até que resulta, com a tensão a prevalecer. O problema é quando os bichos saem para a luz do dia. Bolas... será que custaria assim tanto maquilhar figurantes? O pessoal esforçou-se (e nota-se bem o esforço) para criar um ambiente credível e estraga tudo assim com aqueles gollums raivosos.

Mas pronto. Durante os dois primeiros terços do filme até podemos viver bem com este problema. Will Smith demonstra mais uma vez que tem talento e carisma para dar e vender e aguenta imaculado com o peso de levar esta superprodução às costas. Não deslumbra é certo, mas é eficiente e consegue-nos fazer acreditar que de facto está sozinho no mundo. Vamos acompanhando atentamente as suas actividades de último homem na terra. Não há nenhuma moral implícita, nenhuma crítica política ,nem nada dessas coisas. É apenas a estória de sobrevivência de um homem e da sua cadela! Nem mais nem menos!

Tudo parece perfeito até que... não vou dizer para evitar os spoilers, mas vocês vão perceber quando entrarem no último terço do filme. Mas que final tão metido à pressão... o que é aquilo?? Eu não sei como acaba o livro de Richard Matheson, mas tenho a certeza que não é assim.

Sucedem-se situações pouco credíveis e incorporam-se personagens vazias, tudo sem o mínimo nexo... o que foi construído com tanto cuidado desaba bruscamente e Will Smith vê-se forçado a fazer um esforço extra para manter o mínimo de coerência.

É certo que o filme consegue entreter-nos durante a sua duração e também não tenho dúvidas que é o blockbuster deste Natal... se ao menos se tivesse aguentado na última meia horita...

Uma abelha que não pára no sítio



Umas das vantagens da animação é poder esticar e retorcer os limites da lógica para o campo da fantasia sem que ninguém ouse questionar as razões.

É frequente encontrar-mos insectos que falam e que vivem em sociedades parecidas com as nossas. É giro, é fofo e permite-nos estabelecer uma relação de paralelismo entre a vida determinada geneticamente das pequenas criaturas e a nossa existência irritante. A Pixar fê-lo em "A Bug's Life", a Dreamworks fê-lo por exemplo em "Antz" e volta agora à carga neste "Bee Movie".

Mas se é um facto que os espectadores podem aceitar bichos falantes, também é verdade que pedem em troca o mínimo de lógica interna. E é ali que reside o principal problema deste filme. Alguns gags são muito bons, o humor de observação de Seinfeld continua em grande, e admito que deve ter sido dos filmes dos quais saí mais bem disposto este ano. Mas a certa altura começa a contradizer-se a torto e a direito e a ficar, como direi... parvo.

No início estamos no plano da nossa realidade em que os humanos ficam incrédulos quando ouvem uma abelha a falar, mas de um momento para o outro, o facto de ser-mos processados judicialmente por um insecto é a coisa mais normal do mundo. Desculpem mas eu posso aceitar um rato que cozinha, mas não vamos exagerar.

Por outro lado parece que nunca se consegue encontrar enquanto filme. Tem demasiadas linhas argumentativas para uma obra tão curta. Começa com a clássica premissa do herói que não quer ser só mais uma abelha na colmeia; continua para uma história de amor entre uma abelha e um humano; lá pelo meio temos um thriller de tribunal; acaba com Barry B. a salvar o mundo da destruição ecológica. No fundo este filme acaba por ser o espelho do seu protagonista na medida em que, tal como ele, não consegue decidir aquilo que quer ser.

É uma pena, mas também já era de esperar. Seinfeld vendeu a Spielberg um conceito (o do trocadilho entre "B-movie" e "Bee Movie") mas não tinha ideia de como o haveria de desenvolver.

Acabou por fazer o que sabe melhor: criar bons momentos de humor e articulá-los o melhor que conseguiu. É capaz de ser criticável por ter demasiados diálogos em detrimento do humor físico. Mas que podemos fazer? É assim o humor do Seinfeld e é por isso que gostamos tanto dele.

Quem se iria lembrar de usar uma abelha para comparar os anéis dos dedos dos pés a um chapéu no joelho?

Encantar, encanta, mas não exageremos




Vou vos confessar uma coisa: nas últimas semanas tenho me sentido invulgarmente inquieto por causa por causa de "Enchanted". É que, por mais que tente, simplesmente não consigo compreender o estatuto de obra prima a que alguns o elevaram.

Vamos lá ver... é um filme fofo, inocente, e de vez em quando tem alguns momentos que roçam a genialidade - embora nunca a atinjam totalmente. Mas daí a um 94% no Rotten Tomatoes vai um grande salto.

O filme, de um modo geral, é bastante limitado, e a auto-paródia a que a Disney se submete, embora interessante, está longe da genialidade e irreverência da saga Shrek (entendam-se os dois primeiros filmes). Aliás, por vezes sinto que a casa do rato Mickey usou o pretexto de paródia, como um forma de reproduzir clichés de forma um pouco indiscriminada: veja-se por exemplo o caso da paródia à faceta musical dos clássicos Disney, completamente gasta e repetida vezes sem conta.

De destacar, ainda assim, é a prestação de Amy Adams, na pele da inocente princesa Giselle, que nos consegue transmitir uma ignorância do personagem em relação ao nosso mundo,sem nunca parecer forçada ou imbecil, assim como esse belo esquilo de nome Pip, protagonista das melhores cenas de comédia da obra.

Vejo este "Enchanted" como um bom filme para toda a família que recomendo para quem quiser passar uma boa tarde familiar no cinema, mas... falta-lhe algo.

Falta-lhe sentimento. Falta-lhe a magia que fizeram os clássicos Disney intemporais.

Ursos, demónios e coisas afins




Antes de mais: Não! Não é. "The Golden Compass" não é o sucessor de "The Lord of the Rings". Apesar dos trailers e de toda a tinta que correu, esta adaptação da obra de Philip Pullman está muito longe do filme de Peter Jackson.

Ao contrário do que a acontecia com a Terra Média, o mundo único onde decorre esta aventura, nunca parece realmente "único". Tudo parece muito limitado, muito "curto". Não há dúvida que tudo o que nos mostram tem imenso potencial e parece recheado de uma mitologia bem complexa (os "demónios" são um bom exemplo disso). Mas por muito que tentemos nunca deixamos de ter aquela sensação de que se algo não bate totalmente certo, de que nos estão a mostrar algo que parece um resumo de alguma coisa.

A narrativa nunca consegue ser totalmente coerente. Longos minutos de exposição são intercalados com cenas de acção inesperadas. Parece que se está a tentar referir o maior número de páginas possíveis do romance de Pullman, sem nunca se chegar a conseguir a essência de nenhuma delas. Aquilo que chega aos espectadores, sobre todas as referências ideológicas à igreja e ao catolicismo contidas no livro original, não passa de uma pálida amostra.

Estamos perante um caso flagrante de torytelling defeituoso, o que, para um filme de fantasia é um erro imperdoável. Talvez Chris Weitz precisasse de uma lições com Matthew Vaughn, o homem por detrás de uma coisinha sublime chamada "Stardust".

Isso, claro, reflecte-se na aparente falta de profundidade dos personagens. De todos os intervenientes nesta aventura não são precisos mais de metade dos dedos de uma mão para contar aqueles que realmente me interessaram.

Logicamente, tendo em conta este cenário, não se poderia pedir muito mais aos actores. Todos eles foram funcionais, se bem que estava à espera de um pouco mais de Nicole Kidman, que engatou, estranhamente, o piloto automático.

Mas não queria terminar este texto sem referir o grande ponto alto do filme. Visualmente é do melhor que se pode fazer. Todos os cenários, bem como a dicotomia humano-demónio, são retratados de uma forma exemplar e verdadeiramente deslumbrante. E, para ser honesto, apesar de todos os problemas, reconheço-lhe o potencial que pode vir a ter como trilogia, até porque me manteve interessado no que pode vir aí.

Resta esperar pelos próximos desenvolvimentos... (trilogia sim ou trilogia não, eis a questão...)

Rescue Dawn



"I love America. America gave me wings."


Uma das primeiras coisas que me agradou neste filme foi o facto de, apesar de se passar durante a malfadada guerra do Vietname, não estamos perante nenhuma espécie de filme político, recheado de ideais demagógicos

"Rescue Dawn" é uma obra essencialmente primitiva. Uma obra sobre a sobrevivência do ser humano, na sua forma mais básica. Se quiserem uma descrição deste filme, pensem num "Cast Away" meets "The Great Escape" e não ficarão muito longe da verdade.

Este filme conta a história de Dieter Dengler, um militar americano, nascido na Alemanha, que apaixonou (mantendo as distâncias, claro) Herzog. Aliás, a vida de Dieter já tinha servido de inspiração ao cineasta alemão quando em 1997 este realizou o documentário "Little Dieter Needs to Fly".

Christian Bale é o protagonista e como não poderia deixar de ser tem aqui mais uma das suas muitas grandes interpretações. Ao longo da película, Bale passa de um inocente aviador que está naquela guerra apenas pela simples paixão de voar, a um ser humano primitivo, visivelmente perturbado e obcecado pela esperança de conseguir fugir da prisão onde foi colocado.

Tanto a selva de Laos, como a prisão/campo de concentração, estão aqui reproduzidas uma forma verdadeiramente visceral. Herzog é o protótipo do realizador do passado. Nada de efeitos especiais pomposamente colocados para evitar que os actores sujem as mãos. Aqui tudo, incluindo as torturas, é assustadoramente (quase) real.

Para filmar, Herzog volta a contar com o seu amigo Peter Zeitlinger, que consegue reproduzir a selva de uma forma tão real que nos leva a lamentar genuinamente a situação em que o protagonista se viu envolvido.

Psicologicamente arrebatador e fisicamente esgotante, "Rescue Dawn" é uma obra que cumpre na perfeição tudo a que se propõe.

É um filme do passado, sobre um homem do passado, que trata de instintos universais como há muito não se via por essas salas fora.

(9/10) * * * * *

Elizabeth: The Golden Age



"By God, England will not fall while I am Queen"


É certo e sabido que as sequelas são na sua maioria (há honrosas excepções) piores que os originais. E quando o original dá pelo nome de "Elizabeth", a pressão torna-se quase insuportável.

Mas vamos começar pelo bom: há aspectos em que este filme supera (ou pelo menos iguala o original), embora esses aspectos sejam na sua maioria de carácter técnico. A fotografia é muito boa, com o ecrã recheado de cores saturadas que parecem saídas de uma pintura clássica. Tudo é épico (ou pelo menos, tudo pretende ser épico), do som ao guarda roupa. Aqui, a mais vulgar das cenas é filmada como se estivéssemos a assistir a uma obra grandiosa.

O outro aspecto positivo prende-se com a própria protagonista. Cate Blanchett arrebata para ela qualquer cena em que entre. Ninguém dúvida, nem por um segundo que seja que ela é uma rainha, e vou ao ponto de afirmar (castiguem-me porque vou pecar) que ela consegue ofuscar a interpretação de Judi Dench da mesma rainha em "Shakespeare in Love".

Agora, para além disso, tudo o resto falhou completamente. Supostamente deveríamos estar na presença de um thriller histórico-político-monárquico, tendo em conta que Elizabeth teve que enfrentar uma série de conspiradores que a queriam tirar do poder a todo o custo. Mas por alguma razão, os seus criadores acharam por bem dar menos importância a este aspecto da vida da rainha, e apostar mais em retratar uma espécie de amor proibido entre a rainha e o explorador/pirata Walter Raleigh (Clive Owen também ele cheio de carisma).

Num filme passado durante aquele que foi um dos maiores perigos que a Inglaterra enfrentou em toda a sua história, preferiu-se dar o protagonismo a um melodrama mal construído que poderia muito bem ter sido protagonizado por Bette Davis lá na década de 40. Aquilo que realmente interessa é reduzido a uma dúzia de cenas desconexas e estereotipadas, em que muitas vezes nem nos apercebemos bem do que se está a passar. Até o combate contra a Armada Invencível, o clímax de toda a história, parece uma brincadeira de banheira, acompanhada isso sim, de uma música bem épica, na tentativa de fazer de dar à cena uma epicidade que ela não tem.

No final nem Blanchett, nem Owen (e muito menos Geoffrey Rush, que foi completamente subaproveitado) conseguem salvar este filme da mediocridade. O que é uma pena, diga-se de passagem...

(4/10) * *

"1408"



"It's an evil fucking room."


Antes de mais um pequeno disclaimer: Estava eu a entrar na puberdade quando descobri um autor chamado Stephen King. Foi dele o primeiro romance "a sério" que eu li, e a partir desse momento não só li uma porção considerável dos seus contos e romances, com vi quase todas as suas adaptações ao cinema, e posso afirmar que é, sem sombra de dúvidas, um dos meus autores de eleição.

Dito isto avançamos para o filme: Sim, apesar de existirem muitos, poucos são os filmes com a marca Stephen King que se aproveitam. Este "1408" ("catorze, zero oito" ou "mil quatrocentos e oito"?), não está ao nível de um "The Shining" ou de um "The Shawshank Redemption" (mas, hoje em dia, poucos estão). Eu colocaria esta nova aventura de King no cinema, ao nível de um mais que respeitável "Misery". Aliás, pensem nele como uma mistura entre "Misery" e "The Shining".

Ao factor claustrofóbico e perturbante de "Misery", acrescentamos o factor paranormal de "Shining" e temos um filme de suspense algo antiquado mas honesto, com momentos do mais puro surrealismo à moda de King, que consegue ser genuinamente assustador.

Um dos aspectos interessantes na construção desse medo é a forma como o Hotel Dolphin nos é apresentado. Nada de colinas assustadoras e noites de tempestade. É um simples Hotel contemporâneo no meio de Nova Iorque, como tantos outros por onde podemos passar... isso se tivermos dinheiro, claro.

Quem mais contribui para o sucesso deste filme (e, sem ele isto não resultaria tão bem) é John Cusack. Cusack é daqueles actores com um grande potencial, e com grandes desempenhos que nunca teve o merecido reconhecimento. É certo que já entrou em coisas interessantes ("Being John Malkovich" e "High Fidelity", assim de repente) mas por nada com a projecção suficiente para o lançar definitivamente para o estrelato. Seja como for, aqui ele está no seu melhor... e olhem que ele teve, literalmente, que carregar com o filme às costas. JC pegou num personagem que muito facilmente poderia ser considerado arrogante e antipático, e conseguiu transformá-lo em alguém profundo e complexo pelo qual nos interessamos, o que é digno de nota!

"1408" é por isso tudo um filme a ver. Um verdadeiro filme de suspense old school, com alguns toques interessantes e inovadores na realização a cargo de Mikael Håfström (gostei paticularmente da forma como os fantasmas parecem saídos de uma televisão antiga, e do plano da fechadura, na primeira vez que Cusack entra no quarto).

Atrevam-se a passar lá uma noite e digam que vão da minha parte!

(7.5/10) * * * *

"Death Proof"



"Ladies, we're gonna have some fun"


Para quem acompanha este vosso blog desde os seus primórdios sabe que eu sou um assumido fã do cinema de Tarantino Man. Por isso foi com grande expectativa que me pus à frente deste "Death Proof", a sua contribuição para o projecto "Grindhouse". Afinal de contas, que outro conceito poderia ser tão perfeito para Tarantino nos mostrar os seus dotes como "homenageador" fetichista podófilo?

Não é preciso esperar muito para nos encontrarmos com este Tarantino. Aquele que tão bem sabe filmar o género feminino (com especial incidência na parte terminal dos membros inferiores) e aquele que consegue colocar os diálogos mais profundos e banais nas situações mais inesperadas. Diálogos tão distintos da linha argumental primária mas ao mesmo tempo tão perfeitamente unidos a esta.

Esse diálogos abundam em "Death Proof", e por estranho (e herético) que possa parecer, surgem deles um dos principais problemas do filme. Não há dúvida que Tarantino é um mestre em temas secundários, mas aqui deslumbrou-se de tal maneiras com eles que se esqueceu do argumento principal, que basicamente não existe. Escusado será dizer que essa inexistência é tão mais notória quanto maior for a qualidade do secundário.

"Death Proof" é uma patetice do princípio ao fim. Uma patetice obscenamente bem filmada, mas ainda assim uma patetice que pode ser resumida num parágrafo. E é ao ver-mos cenas como a do choque frontal, umas das coisinhas mais espectaculares dos últimos tempos a passar-me pela vista, que cresce em nós uma verdadeira raiva para com Tarantino. Raiva por ver o genial que ele pode ser quando se esforça, e raiva por não se ter esmerado dessa forma com o resto do filme.

Podem alegar que o género que Tarantino pretende aqui homenagear é também ele uma patetice pegada, mas... isso não é desculpa suficiente. No final do filme ficamos basicamente com grandes representações (já vos disse que Kurt Russel é o maior?), com uma cena espectacular, com um par de outras cenas não tão geniais mas ainda assim interessantes, e com um tremendo sabor a pouco na boca.

Não é um mau filme (tomara todos os maus filmes sejam assim), mas.. bem... espero que "Planet Terror" seja melhor, e que Tarantino se esforce mais para a próxima.

(6/10) * * *