Anos antes do "The Machinist", e numa altura em que todos queriam entrar na camioneta dos twists, Brad Anderson realizou um dos mais interessantes e subvalorizados exercícios de terror psicológico do início do século XXI.
"Session 9" conta-nos a história de cinco trabalhadores contratados para remover amianto de um asilo abandonado. O elenco é minimalista e a ação concentra-se quase toda no mesmo espaço. Não há muito que enganar: não há dinheiro para grandes extravagâncias. E isso é bom.
Sente-se deste o início que alguma coisa está mal. Brad Anderson é exemplar na forma como consegue um ambiente inegavelmente sinistro sem nunca precisar de recorrer ao gore ou aos sustos fáceis. A tensão vai crescendo, sempre dentro das regras definidas à partida até à grande revelação.
No final não há nada que pareça demasiado forçado e a conclusão é surpreendente mas inevitável.
Um locutor de rádio e a sua equipa de produção são obrigados a encurralar-se no estúdio. As notícias que chegam do exterior dão conta de um vírus mortal que começou a dizimar grande parte da população local. A coisa parece feia.
Surpreendentemente o responsável parece ser a língua, mais propriamente a língua inglesa. A única solução passa por anular o significado e subverter os significantes, o que transforma a luta contra o apocalipse zombie numa espécie de batalha semiótica.
Este é o ponto de partida de "Pontypool",um produto canadiano refrescantemente diferente, recheado de um terror cerebral e criativo que pode facilmente perder-se na tradução. É claustrofóbico sem deixar de ser universal, é assustador sem perder a lógica, é complexo sem deixar de ser simples.
Os ingredientes do género estão todos lá, embora o gore esteja reduzido a um par de cenas, mas a forma como são subvertidos e reinterpretados obriga qualquer amante do terror que se preze a pensar e a refletir sobre o género. E isso, só por si, já vale uma visualização.
Misturando influências que vão de Rod Serling a Jim Jarmusch, "A Girl Walks Home Alone at Night" foi inteligentemente promovido como o "primeiro western spaguetti de vampiros iraniano". Na realidade, e apesar de ser falado em pársi, esta é um produção independente americana filmada na Califórnia (se pensavam que podiam passar pelo cinema iraniano sem se cruzarem com o Kiarostami, ainda não é desta).
"A Girl Walks Home Alone at Night" é uma espécie de noir gótico extremamente atmosférico, com uma fotografia fantástica e uma atenção especial na escolha e edição da banda-sonora, que nos deixa a salivar pelas potencialidades da estreante realizadora Ana Lily Amirpour.
Durante uma hora e meia somos transportados até Bad City, uma espécie de Sin City dos pequenitos, onde assistimos ao nascimento de um romance hipnótico entre uma vampira justiceira e um bom rapaz.
Tudo muito bem filmado, tudo bastante imprevisível e tudo feito com um apuradíssimo sentido do cool.
"Trick r' Treat" é mais do que um filme de terror sobre Halloween. É "o" filme de Halloween definitivo.
Esta antologia de terror, escrita e realizada por Michael Dougherty, consegue o que mais nenhum filme conseguiu até ao momento: transportar incólume o espírito do Halloween dos subúrbios norte-americanos diretamente para as nossas televisões (e digo televisões porque o filme não chegou ao circuito convencional das salas de cinema).
São quatro histórias escritas com uma paixão inquestionável pela quadra, onde Dougherty chega mesmo a ressuscitar um personagem que criou para a curta "Season's Greetings" de 1996.
Lá pelo meio temos ainda um Carpenter look-a-like que odeia o Halloween, crianças que regressam dos mortos, um indivíduo que talvez leve as comemorações demasiado a sério e, claro, vampiros. Ou serão lobisomens?
Escrito e realizado por Jemaine Clement e Taika Waititi (este último prepara-se para realizar o terceiro capítulo de "Thor" para a toda poderosa Marvel), "What We Do in the Shadows" é um brilhante falso documentário que acompanha a vida de Viago, Deacon, Vladislav e Petyr, quatro companheiros que partilham uma casa em Wellington, na Nova Zelândia.
Entre rendas para pagar, saídas à noite e encontros casuais, os nossos amigos levam uma vida que poderia ser considerada banal não fosse o caso de serem... vampiros. Já pararam para pensar no difícil que deve ser para um vampiro aceder a uma discoteca, tendo em conta que só pode entrar se forem convidados? Ou como é que os desgraçados sabem se a roupa lhes fica bem sem ver o reflexo no espelho? Ao contrário do que se possa pensar, ser uma criatura amaldiçoada e imortal no século XXI não é fácil.
"What We Do in the Shadows" é um desfilar de situações caricatas com ritmo, graça e criatividade suficiente para se tornar num clássico imprescindível de Halloween. Diz a lenda que os atores trabalharam sem guião, improvisando as cenas a partir de uma breve indicação do realizador sobre o que era suposto acontecer. Como se fossem precisos mais motivos para ver isto o mais depressa possível.
Um grupo de jovens está a passar férias num lugar afastado da civilização quando as coisas começam a correr mal. Uma morte aqui, uma perseguição acolá e parecem não haver grandes dúvidas sobre os culpados. Dois saloios de aspeto pouco recomendável e evidentes incapacidades sociais andam a rondar a área. Só podem ser eles, certo?
"Tucker and Dale vs. Evil" agarra as convenções do género pelo colarinho e pendura-as de cabeça para baixo no pinheiro-bravo mais alto da região. Não só não tem pena de fazer sofrer os jovens da moda, todos muito limpinhos e bonitinhos, ali metidos para nos dar o habitual nude shot do trailer, como lhes tira a razão e o protagonismo. Afinal de contas a história dos slashers já nos provou que eles só lá estão para serem caçados. Os verdadeiros protagonistas são os outros, os sujos e mal vestidos, os pobres diabos azarados com mais fama que proveito.
A empatia é imediata, a dupla funciona e o resultado final tem tanto gore como piada. Piada genuína, daquela insólita que nunca perde a compostura, essencial em qualquer Halloween que se preze.
A necessidade de comemorar uma americanada como o Halloween em terras lusas pode ser questionável mas é uma bela desculpa para ver filmes de terror durante uma semana inteira.
Até dia 31 vão passar por aqui diariamente alguns filmes dedicados a esta bonita quadra festiva.
Declaro aberta a primeira Semana do Espanto!(porque o "Fright Night" em português era "A Noite do Espanto" e... pronto... por isso.).
"Monster Squad" é um daqueles filmes que eu gostaria de ter visto quando era puto. Assim à primeira vista, é a típica aventura familiar dos anos 80 à lo "Goonies". Um grupo de miúdos, cada um com uma característica da personalidade bem definida (o "gordo", o "cromo", o "fixe", o "líder", e por aí a fora), vê-se envolvido numa história que pode mudar o destino da humanidade: um conjunto de monstros prepara-se para destruir o único artefacto capaz de os deter e os adultos não parecem muito interessados em acreditar que eles existam.
Tudo muito simples e linear, tudo muito familiar. A questão é que dentro desta comédia óbvia para toda a família está uma homenagem engenhosa aos clássicos da Universal, que se satiriza com uma pinta do caraças e que não tem medo de ser adulta nos momentos mais inesperados.
Assim em jeito de curiosidade, "Monster Squad" é realizado por Fred Dekker, o mesmo realizador do "Night of the Creeps" e de uma série de episódios do "Tales from the Crypt". Em 1993 teve o azar de enterrar a carreira no "Robocop 3" e nunca mais soubemos nada dele. Diz-se por aí que está neste momento a preparar um remake/sequela criativa do "Predator" em parceria com o Shane Black (que também co-escreveu este filme).